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A Primeira Infância E Os Comportamentos Agressivos: A Família E A Escola


Principalmente na prática clínica percebemos o aumento na quantidade de crianças pequenas que chegam ao consultório, encaminhados pela escola ou trazidos pelos pais, com a queixa de comportamento agressivo. Em sua maioria, os pais não conseguem lidar com seus filhos lhes gerando angústia e dificuldade no gerenciamento da rotina diária da casa e das crianças e de seus próprios sentimentos.

Em pesquisa realizada na Universidade de Washington, constatou-se que a agressividade na infância está aumentando – e em crianças cada vez mais novas. Segundo a pesquisa, a progressão da agressividade em termos de desenvolvimento em crianças sugere que a propensão para agressão física e comportamento de oposição atinge um pico aos 02 anos de idade. Normalmente, a agressividade começa a se reduzir a cada ano à medida que a criança se desenvolve, e atinge um nível relativamente baixo antes do ingresso na escola (5 a 6 anos de idade). No entanto, em algumas crianças pequenas, os níveis de comportamento agressivo continuam altos e acabam resultando em diagnósticos de Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) ou de Transtorno de Conduta (TC) precoce.

Na clínica, as crianças chegam ao consultório muitas vezes com “ares” de donos das famílias e seus pais amedrontados por não saberem mais o que fazer. E surge então a pergunta: Isto é normal? O que fizemos de errado, ou ainda, qual o problema desta criança? E para finalizar qual a receita mágica para resolver este problema?

Faz-necessário aqui pontuar e lembrar que há uma fase na qual é normal (entre 2-3 anos) que a criança faça pirraças. Ainda é pequena e a percepção do real, dos próprios sentimentos ainda é inadequada. O controle das sensações é ainda precário e os adultos devem, portanto ajuda-los a organizar e controlar estes sentimentos. Para isso desde cedo devem adotar algumas atitudes necessárias para que isso aconteça e que em pleno desenvolvimento neuronal padrões de comportamento mais adequados sejam aprendidos.

O problema é que atualmente não são muitas as crianças que podem contar com essa base sólida e tão importante chamada família. Inúmeras crianças não têm em sua casa os referenciais básicos que possam ser seguidos, imitados e tidos como modelo.

Quando na clínica recebemos as famílias com estas queixas, partimos então para a avaliação psicodiagnóstica para que possamos compreender qual a origem do que ocorre e qual a forma de abordar e melhorar o problema e orientar pais e filhos.

De forma individualizada e específica avalia-se a forma em que as relações familiares se desenvolvem em termos afetivos entre a criança e seus genitores ou cuidadores e entre os genitores entre si. Como se desenvolvem os cuidados necessários, e como se estabelece a autoridade necessária para que limites e regras sejam respeitados.

O olhar atento, afetivo e participativo dos pais com os filhos existe? Como transcorre a relação entre genitores de afeto e respeito e parceria na educação dos filhos ou disputa por eles? A criança tem suas necessidades básicas atendidas? Ela é ensinada a lidar com frustrações? Aprendeu a entender o NÃO? Existe a implementação de uma rotina saudável? Uma cobrança adequada? De forma geral estas são as perguntas que nós da área da psicologia, educação e da saúde de uma forma geral, devemos nos fazer quando nos deparamos com a agressividade de uma criança.

Quando surge a agressividade dos filhos, muitos pais regridem junto com eles como se vivessem na mesma faixa etária da criança. Por motivos muitas vezes internos aos pais não conseguem controlar seus próprios sentimentos e brigam como se fossem duas crianças. Respeito e autoridade se perdem. INVERSÃO DE VALORES!

Outros ainda não conseguem perceber que muitas vezes a agressividade infantil é uma forma de comunicação, pois como dito anteriormente, não conseguem ainda entender o que sentem, e muito menos verbalizar. Atualmente pais trabalham em demasia deixando a educação e atenção aos filhos por conta de escolas, babás e avós. Claro que os pais precisam trabalhar, porém ao se planejar a geração de filhos é importante pensar que alguns valores precisam ser mudados, a quantidade de trabalho deve ser diminuída, as perspectivas e responsabilidades mudadas. Mas não é isto que acontece. Muitas vezes a quantidade de trabalho permanece e o casal parental não conseguiu se organizar de outra forma. E muitas vezes ainda vem o segundo filho. A pouca atenção que o primeiro filho tinha ainda tem que ser dividida. Um dos sintomas que pode aparecer é a agressividade.

Some – se a isto o mundo contemporâneo no qual vivemos imerso no consumismo, em um mercado capitalista aonde as relações se estabelecem pelo consumo. Pais e filhos envolvidos na máquina do consumismo. Os pais priorizam os presentes as roupas, as viagens à Disney todos os anos a passar as férias vendo a sessão da tarde com seus filhos comendo pipoca em casa(muitos esqueceram como era boa essa época). Crianças reclamam que os pais chegam em casa e continuam no computador ou ainda no celular. Precisam trabalhar, pois precisam pagar tudo isto! e…muitas vezes as crianças vezes agridem por isso! INVERSAO DE VALORES!

Pela falta de tempo dos pais, a falta de paciência impera e a culpa por estar distante também. A compensação acontece através do excesso de recompensas e presentes bem como pelo comodismo gerado por dizer “SIM”, transforma crianças em pequenos “reizinhos” acostumados a terem o mundo girando em volta dos próprios umbigos, que ao serem contrariados reagem com agressividade. INVERSÃO DE VALORES!

E em meio a estas inversões, chegam ao consultório muitas crianças com depressão. A depressão infantil se desenvolve de forma diferente da do adulto: a agressividade e irritabilidade são sintomas importantes. A frustração excessiva, a falta de afeto e as interpretações da criança acerca deste mundo que a rodeia geram sentimentos e pensamentos negativos sobre si mesmos que a deprimem. As sensações de desamparo nas situações relatadas geram sentimentos depressivos sim! Que precisam ser cuidados.

Voltando às inversões de valores, imaginem quando estas transbordam sobre a escola. Acontece o caos que ouvimos e percebemos nos relatos de pais, professores e escolas que apresentam grande dificuldade em gerenciar a agressividade dos alunos frente às dinâmicas familiares contemporâneas, se veem de mãos atadas, sem saber o que fazer. Ambos, família e escola, pais e professores mostram-se perdidos entre a agressividade infantil em excesso e as suas próprias agressividades necessitando de ajuda para seguir um rumo a caminho de maior equilíbrio para nossas crianças.

Referências bibliográficas:

– SOUZA MARIA ABIGAIL DE; CASTRO, REBECA EUGÊNIA FERNANDES DE -Agressividade infantil no ambiente escolar: concepções e atitudes do professor Psicol. estud. vol.13 no.4 Maringá Oct./Dec. 2008http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722008000400022 – SCHROEDER, TÂNIA MARIA RECHIA; ALMEIDA, CLEONICE PEREIRA DE – indisciplina: falta de limites ou inversâo de valores – FERREIRA, LARISSA DAVID; Wiezzel, ANDRÉIA CRISTIANE S. – agressividade infantil: entre os fatores emocionais e ambientais. – http://www.enciclopedia-crianca.com/pages/PDF/AgressividadePRTmcP1.pdf -STRATTON, CAROLYN WEBSTER – Agressividade em crianças pequenas. Serviços que demonstram eficácia na redução da agressividade. University of Washington, EUA (Publicado on-line, em português, em 23 de abril de 2010)


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