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SUPERANDO O SOFRIMENTO CAUSADO PELO LUTO POR MORTE DE UM FAMILIAR


Lidar com a ausência eterna de uma pessoa querida, saber que deixará de ver e conversar com um ente querido é algo desesperador no primeiro estágio dessa perda. Os que ainda não passaram por processo semelhante tentam fugir desse tema, principalmente, quando se pensa em algum familiar: pai, mãe, marido, esposa, filhos. A experiência de viver o luto pode se transformar em uma situação traumática, construída por uma rede de silêncio em torno da morte e do morrer, necessitando de auxílio externo por meio da busca de apoio profissional. O processo de luto começa a regredir quando o paciente consegue encontrar defesas e modos de lidar com a perda, dando uma resposta nova e adequada, constituindo assim, o ajustamento do homem a si mesmo.

A morte sempre é uma surpresa, mesmo que aparentemente próxima, ao ouvir a notícia da morte de alguém, sempre se observa um espanto e, em não poucos casos, o desespero. Até mesmo ao moribundo em seu estado terminal, não é comum se despedir dos seus familiares, sempre há a esperança de mais um dia. Mas a morte não pede licença, chega e se impõe, não dando nem ao morto, nem ao que provará o luto a possibilidade de negociação. Quando a morte chega através de situações realmente impensáveis, aí então o contexto do luto será mais difícil e assolador.

Quando se perde um familiar em um acidente; ou quando este era ainda uma criança; ou ainda, um jovem cheio de possibilidades na vida, cheio de sonhos a realizar e de perspectivas familiares a cumprir, como acabar a faculdade, casar, dar netos a seus pais, enfim, viver uma vida de realizações. A dificuldade de superação do luto parece a primeiro plano intransponível.

A morte como perda supõe um sentimento, uma pessoa e um tempo. É a morte que envolve, basicamente, a relação entre pessoas. Se ocorre de maneira brusca e inesperada tem uma potencialidade de desorganização, paralisação e impotência. As ações do cotidiano, como falar, atravessar a rua, cuidar do outro, alimentar-se, são matizadas pelo constrangimento do inusitado em duas situações: diante da própria perda e diante de alguém que perdeu alguém. Embora saibamos racionalmente que a morte é inevitável, este saber nem sempre está presente, fazendo surgir o paradoxo da morte (in)esperada. Em casos extremos a morte invade de tal forma a vida que passa a fazer parte dela. (KOVÁCS, 2010, pág. 154).

Para exemplificar uma perda familiar inesperada, pode-se citar a morte de um filho. Dentre todas as perdas por morte de familiares, a morte de um filho é, sem dúvida, a mais difícil de suportar. Segundo Yalom (2007):

“Perder um dos pais ou um amigo antigo geralmente é perder o passado: a pessoa que morreu pode ser a única testemunha viva dos eventos dourados de muito tempo atrás. Mas perder um filho é perder o futuro: o que é perdido não é nada menos que o projeto de vida da pessoa – aquilo pelo que a pessoa vive, a maneira pela qual se projeta no futuro, o modo pelo qual a pessoa pode transcender a morte (na verdade, o filho se torna o projeto de imortalidade).”

Psicanaliticamente falando, a perda dos pais é a perda do objeto, sendo este a figura que desempenhou um papel instrumental importante na constituição do mundo interior da pessoa. Ao passo que, a perda de um filho é a perda do projeto, sendo este projeto, o principio organizador central da vida de alguém, que proporciona não somente o porquê, mas também o como de sua vida. Perder um filho representa a quebra de uma sequência esperada, a ordem natural da vida são os mais velhos morrerem primeiro, quando essa “lógica” é desrespeitada, ocasiona quase que invariavelmente, um luto patológico excessivo e contundente, onde a culpa, o desespero, a necessidade de reparação e a depressão tomam lugar de destaque.

O luto normal pode ser superado naturalmente, sem quaisquer tipos de intervenção. Porém, o luto patológico, melancólico, depressivo, necessita de apoio profissional constante para que não culmine em transtornos maníaco-obsessivos, em neuroses, compulsividade e finalmente em suicídio, o que não poucas vezes acontece ao enlutado.

O amparo psicoterápico através da psicanálise é fundamental para o restabelecimento desse indivíduo, o trabalho concomitante com outras áreas da medicina também é importante. Pois, há de se entender que, por exemplo, a perda de um filho é um dos acontecimentos mais difíceis de aceitar, um trauma psicológico por demais intenso, um acontecimento que quebra a sequencia esperada: nenhuma mãe está preparada para enterrar seu filho.


Por Trás do Blog
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